domingo, 29 de agosto de 2010

Caminho Espiritual



O amadurecimento no caminho espiritual cria para nós milhares de possibilidades. Toda magia e encantamento das dez mil coisas que surgem diante de nós ganha vida de uma maneira nova. Nossos pensamentos e sentimentos se abrem como uma paleta em expansão. Experimentamos mais profundamente tanto a beleza quanto o sofrimento da vida; podemos ver com novos olhos e ouvir toda a grande canção da vida.

(...) Todas as grandes religiões são apenas conjuntos de palavras e conceitos, cortinas puxadas sobre o grande mistério da vida. Elas são os caminhos que grupos de seres humanos iguais a nós encontraram para interpretar, compreender e se sentir seguros diante da indescritível, impenetrável e sempre mutável canção da vida.

Como honramos esse mistério? A partir de uma perspectiva desperta, a vida é um jogo de padrões, os padrões das árvores, o movimento das estrelas, o padrão das estações e os padrões da vida humana em todas as suas formas. Cada um desses padrões poderia ser chamado de uma canção ou de uma história. (...) Esses padrões básicos, essas histórias, os arquétipos universais através dos quais toda vida surge, podem ser vistos e ouvidos quando estamos serenos, atentos e despertos.

À medida que a nossa visão se abre, podemos fazer indagações extraordinárias. Quais os padrões e histórias que nos foram reservados nesta vida? Qual a forma "individual" que assumimos desta vez? Quais os mitos e histórias que herdamos e quais histórias continuamos acompanhando em face do mistério?

(...) As circunstâncias da nossa vida nos levam a certos temas, a certas tarefas a cumprir, a dificuldades que precisamos enfrentar e a lições que temos de aprender. Convertemos isso tudo na nossa história, na nossa canção. À medida que ouvimos profundamente, podemos escutar qual parte escolhemos, como criamos nossa identidade diante do mistério. Contudo, precisamos perguntar: "É isso que eu sou?"

A prática espiritual é revolucionária. Ela permite que saiamos da nossa identidade pessoal, da nossa cultura e religião, para experimentar mais diretamente o grande mistério, a grande música da vida.

(...) Aqui à nossa volta está sempre o mistério. Essa grande canção tem a alegria e a tristeza como sua urdidura e textura. Entre as montanhas e os vales do nascimento e da morte, encontramos todas as vozes e todas as possibilidades. A prática espiritual não nos pede para colocarmos mais crenças em cima de nossa vida. No seu cerne, ela nos pede para despertar, para enfrentar a vida diretamente.

(...) Veremos como isso pode ser difícil. Encontraremos todas as histórias de dor e medo, o sentimento contraído do eu que se retrai diante das inevitáveis adversidades e sofrimentos da vida. Sentiremos o vazio e a perda na impermanência de nós mesmos e de todas as coisas. Durante um certo tempo da prática, toda a criação talvez pareça ser uma história limitada e dolorosa, na qual a vida é impermanente, cheia de sofrimentos e difícil de suportar. Talvez ansiemos por afastar-nos de suas dores e reveses. Mas essas perspectivas são apenas a primeira parte do nosso despertar.

A segunda parte da grande história do despertar não se refere à perda ou à dor, mas ao encontro da harmonia da nossa própria canção dentro da grande canção. Podemos encontrar paz e liberdade diante do mistério da vida. (...) No processo de transformação, surge uma abundância de novas formas, de novos nascimentos, de novas possibilidades, de novas expressões de arte, de música e milhões de formas de vida. É somente porque tudo está mudando que essa generosa e ilimitada criatividade existe.

O tesouro oculto nos sofrimentos, nas tristezas e dores do mundo é a própria compaixão. A compaixão é a resposta da vida ao sofrimento. Compartilhamos a beleza da vida e o oceano das lágrimas. O sofrimento da vida é parte do coração de cada um de nós, e parte daquilo que nos liga uns aos outros. Ele traz consigo a sua ternura, a misericórdia e uma bondade universal que pode tocar todos os seres.

(...)A prática espiritual oferece a possibilidade de descobrirmos a maior de todas as histórias: de que somos tudo e nada. É possível perceber que todas as coisas estão interligadas na criatividade e na compaixão. (...) Todas as coisas são uma parte de nós mesmos e, ainda assim, de algum modo não somos nenhuma delas e estamos além delas.

Quando escreveu esta simples prece, "Ensinai-nos a querer e a não querer", T. S. Eliot captou a possibilidade de valorizar a preciosidade de cada momento sabendo, ao mesmo tempo, que cada momento logo se dissolveria na grande canção. Podemos conservar cada florescer da vida com um coração aberto e sem apego; podemos honrar cada uma das notas da grande canção destinada a surgir e a passar com todas as coisas.

(...) O coração desperto pode responder à pergunta (...): "Quem pode desemaranhar o emaranhado deste mundo?" Descobrimos um milagre: todas as criações da mente e do coração podem ser transformadas. (...) A descoberta do nosso coração compassivo pode desenredar o nosso sofrimento; o despertar dos olhos da sabedoria pode desenredar a nossa ilusão.

(...) Os sofrimentos criados pela mente podem ser desenredados. Podemos libertá-los e nos abrir àquela grande canção que está além de todas as histórias, ao dharma, que é atemporal. Podemos mover-nos através da vida realizando a nossa parte e, ainda assim, ser livres em meio à vida. Quando as histórias da nossa vida não nos prendem mais, descobrimos algo maior dentro delas. Descobrimos que dentro das próprias limitações da forma (...) está a liberdade e a harmonia que buscamos por tanto tempo. Nossa vida individual é uma expressão do mistério como um todo, e nela podemos repousar no centro do movimento, o centro de todos os mundos.


(fonte: Jack Kornfield. Um caminho com o coração. Tradução de Merle Scoss e Melania Scoss. São Paulo, Cultrix, 1999, p. 292-299)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Religião



Uma vida sem religião é como um barco sem leme.

Gandhi

(fonte texto: www.culturabrasil.pro.br/gandhi.htm)
(fonte imagem: www.imagenshistoricas.blogspot.com)
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